O caso registrado inicialmente como estupro de vulnerável em Caarapó, a 274 quilômetros de Campo Grande, teve reviravolta após as investigações. A Polícia Civil passou a trabalhar com a hipótese de que a menina de 7 anos, diagnosticada com autismo, foi induzida por familiares a relatar um abuso que não encontra sustentação nos elementos apurados até agora. O delegado Ciro Carlos Jales Carvalho, titular da delegacia do município, afirmou ao Campo Grande News , que novas oitivas mudaram o entendimento inicial do caso. “Desde ontem estamos em apuração com outras pessoas das proximidades e, ao que tudo indica, a criança foi levada a erro e induzida a dizer que teria sido abusada, ao ser perguntada de forma contundente pelos familiares”, declarou. O homem de 26 anos apontado como suspeito foi liberado após a análise dos fatos. Segundo o delegado, a prisão não se sustentou. “O suspeito foi liberado por várias razões, dentre elas ter álibi e não ter as descrições mencionadas.” A reavaliação da cena e dos depoimentos trouxe inconsistências. O local indicado no relato inicial é uma área movimentada, onde havia circulação constante de pessoas e crianças. “A todo momento tinham crianças brincando. Ela só estava escondida”, disse o delegado. Também não foram encontrados vestígios físicos e os relatos colhidos apresentaram divergências relevantes. Questionado sobre como a polícia chegou à conclusão de que houve indução, o delegado explicou que a mudança veio a partir da escuta de testemunhas diferentes das ouvidas no primeiro momento. “Ao conversar com pessoas que presenciaram o encontro da criança e a abordagem da família, percebemos que as informações eram discrepantes”, afirmou. Outro ponto considerado foi a condição do homem inicialmente detido. Ele possui deficiência mental, é beneficiário do Loas (BPC/Benefício de Prestação Continuada) e estava visivelmente assustado com a repercussão do caso. Vestia uma camisa vermelha, característica mencionada pela criança, mas em outra região da cidade, o que enfraquece a associação direta feita no início. Apesar das conclusões preliminares, o delegado adota cautela. “Eu não posso fazer uma declaração formal agora sobre a reviravolta do caso, porque seria prematuro. Mas tudo converge para a inexistência de crime”, disse. Ciro também diferenciou a mobilização por um desaparecimento da acusação pública de um crime. “A difusão da informação de desaparecimento foi necessária e ajudou a localizar a família. Já a divulgação de crime com indicação de autoria é atribuição da investigação da Polícia Civil e, depois, do Poder Judiciário, em eventual ação penal do Ministério Público”. Para a autoridade policial, a precipitação pode gerar injustiças. “Informações açodadas atrapalham a investigação e podem resultar em injustiça.” Sobre eventuais consequências, ele avalia que não deve haver responsabilização criminal. “Não houve dolo de apontar crime inexistente ou autoria sabendo da inocência. Vejo, no máximo, consequências na esfera cível, se alguém se sentir prejudicado”. De acordo com o delegado, laudo do perito oficial descartou a ocorrência de abuso ou ato libidinoso. Entenda o caso - De acordo com o boletim de ocorrência, a mãe da menina contou que ela brincava com outras duas crianças perto de casa quando por volta das 18h acabou sumindo. A vítima foi encontrada momentos depois por um vizinho toda suja e assustada em uma área de matagal na região. A criança contou que um desconhecido estava agachado no local e a chamou. Quando ela foi, o rapaz a agarrou e arrastou para o mato onde a amarrou e passou as mãos em suas partes íntimas. A menina não conseguiu gritar porque o suspeito ainda colocou uma fita em sua boca. A mãe descobriu o sumiço quando foi procurar a filha para tomar banho e a encontrou com ajuda de um vizinho. Ainda conforme o registro policial, a menina foi levada para o atendimento médico, mas antes contou aos policiais as características e as roupas que o suspeito usava. Na unidade hospitalar, a médica confirmou que houve abuso. Os policiais militares encontraram o rapaz e mostraram uma foto para a menina que confirmou ser ele o autor do abuso. O suspeito demonstrou muito nervosismo ao ser questionado. Ele estava com os pés e pernas sujos de terra e também apresentou falas desconexas. A princípio, ele teria laudo de esquizofrenia. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .