O ano de 2025 foi marcado por muitos avanços estruturais importantes para o Pantanal, mas também de sinais de alerta que mantêm o bioma sob risco. Entre políticas públicas inéditas, trégua climática e debates nacionais controversos, o saldo é positivo, ainda que longe do ideal, avaliam lideranças ambientais ouvidas nesta retrospectiva. Um dos marcos do ano foi a implementação do PSA (Pagamento por Serviços Ambientais) pelo governo estadual. Para o diretor de Comunicação do SOS Pantanal, Gustavo Figueiroa, a medida dialoga diretamente com a realidade do bioma, onde cerca de 95% do território está em áreas privadas. O PSA passou a reconhecer quem historicamente conservou e também a destinar recursos para prevenção de incêndios, deixando de ser apenas compensatório e assumindo papel estruturante. Na mesma linha, a Lei Federal do Estatuto do Pantanal, aprovada em 2025, é apontada como avanço por garantir maior estabilidade jurídica ao único grande bioma brasileiro que ainda não tinha legislação específica. Embora considerada aquém do ideal, a norma cria uma moldura legal nacional sem anular regras estaduais mais restritivas, o que, na avaliação de Figueiroa, reduz a insegurança para conservação e produção responsável. Outro ponto positivo foi o adiamento da concessão da Hidrovia do Rio Paraguai. Segundo o SOS Pantanal, o projeto, como estava desenhado, apresentava falhas técnicas e riscos ambientais e econômicos. A ampliação do debate e a apresentação de estudos técnicos ajudaram a frear um processo que poderia abrir caminho para degradações irreversíveis. Chuvas - No campo ambiental prático, 2025 foi um ano atípico. As chuvas acima da média chegaram mais tarde, mas se estenderam por um período incomum, mantendo o solo úmido e reduzindo drasticamente o risco de incêndios. O resultado foi um alívio após anos de seca extrema, permitindo que governos e organizações focassem mais em prevenção do que em respostas emergenciais. Para Figueiroa, isso possibilitou avanços em legislação, regulamentação e estruturação de órgãos ligados ao combate ao fogo. O coronel Ângelo Rabelo, presidente do IHP (Instituto do Homem Pantaneiro), reforça essa leitura. Ele destaca uma redução de cerca de 85% nos incêndios, combinando fatores naturais e políticas públicas, além de ações inéditas de recuperação de áreas degradadas, especialmente no Cerrado, região estratégica para a manutenção das águas que alimentam o Pantanal. Desafios - No plano nacional, os retrocessos também pesaram. O PL15.190/2025 (Projeto de Lei de Licenciamento Ambiental), conhecido como “PL da Devastação”, aprovado em novembro passado, é visto por Figueiroa como um dos pontos mais negativos do ano. Na avaliação dele, a proposta perdeu a chance de simplificar processos sem fragilizá-los e pode gerar insegurança jurídica, permitindo, por exemplo, autolicenciamento para obras de alto impacto, dependendo da interpretação de estados ou municípios. Apesar da mobilização popular contra a proposta, o Congresso, em sessão conjunta da Câmara e Senado, derrubou 56 vetos dos 63 aplicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Lei, que agora será promulgada pelo Legislativo. O coronel Ângelo Rabelo avalia que algumas discussões travadas ao longo do ano causaram preocupação, especialmente aquelas focadas em medidas isoladas sobre espécies de peixes. Ele cita debates na Assembleia Legislativa que trataram de aumentar o tamanho mínimo de captura de determinadas espécies ou até proibir outras, como ocorreu no caso do dourado. Para Rabelo, esse tipo de abordagem é limitada se não vier acompanhada de uma visão mais ampla sobre a conservação dos recursos hídricos. Segundo ele, não adianta estabelecer regras específicas para espécies se o ambiente como um todo, especialmente rios e áreas alagadas, não oferece condições adequadas para que elas se desenvolvam e se reproduzam. Há ainda críticas à demora na resposta do poder público diante de irregularidades ambientais. Rabelo cita passivos em áreas de preservação permanente identificados em sobrevoos técnicos, especialmente na região da Serra da Bodoquena, onde a lentidão na fiscalização pode tornar danos irreversíveis. Para ele, o problema não é a falta de leis, mas o tempo de reação do Estado. COP30 - No cenário internacional, conforme Figueiroa, o Pantanal ganhou visibilidade inédita durante a COP (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) realizada na Amazônia, com participação expressiva de instituições, artistas e especialistas. A presença reforçou que o bioma também é central na agenda climática global, especialmente em um mundo que começa a reconhecer a chamada “era do fogo”, com incêndios mais frequentes e intensos. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .