Só o AI-5 conseguiu parar Carlos Lacerda
Quando os militares depuseram João Goulart da Presidência, em 1964, Carlos Lacerda era governador da Guanabara e candidato à Presidência pela UDN para as eleições do ano seguinte. Ele e um monte de lideranças apoiaram a intervenção acreditando que, em pouco tempo, os militares voltariam para os quartéis e os civis retomariam a política. Mas não foi isso que aconteceu. Os militares ficaram 21 anos no governo e marginalizaram as lideranças civis, inclusive Lacerda.
A militarização da política foi um baque para os aliados de primeira hora dos generais. Quem quis se manter no barco, aderiu ao Arena, novo partido governista. Quem discordava fazia oposição no MDB. Em 1966, Lacerda já tinha rompido com os militares e antigos aliados da UDN que aderiram ao governo e seu novo partido. No MDB estavam seus antigos inimigos políticos. Ele não cabia em nenhum dos lados. O jeito era buscar outra forma de fazer política e Lacerda surpreendeu a todos quando embarcou para Lisboa encontrar com Juscelino Kubitschek, ex-presidente cassado pelos militares e alvo de muitas de suas críticas. Era preciso deixar as rusgas no passado e unir as forças civis contrárias à ditadura. Surgia a Frente Ampla. Lacerda queria a adesão dos trabalhistas, então, em 1967, ele viajou para o Uruguai e se encontrou com João Goulart, também ex-presidente cassado pelos militares e alvo das críticas lacerdistas.
É claro que essa jogada política de Lacerda não foi bem-vista pelos militares e a classe política. Uns o chamavam de traidor, outros de oportunista. O certo é que a Frente Ampla fez mais barulho do que a oposição consentida do MDB. O governo Costa e Silva mandou fechar a frente, mas a ditadura estava encurralada com as manifestações dos estudantes nas ruas de todo o país. A revolução virou golpe. A reação dos militares veio no final de 1968, com a publicação do quinto Ato Institucional. A ditadura perdeu a vergonha. No dia 30 de dezembro daquele ano, saiu a primeira lista de cassados depois do AI-5. Lacerda era o primeiro. Ele perdia os direitos políticos, justamente para os aliados de 1964.
Chegava ao fim a carreira política do homem da oposição severa, que refez sua vida no Governo da Guanabara e almejava ser Presidente da República. Percebemos a violência do AI-5 quando esse ato conseguiu interromper a carreira política de Carlos Lacerda. Nem Getúlio Vargas conseguiu esse feito.
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