Por que alguns atletas soviéticos venderam suas medalhas olímpicas?
Nikolai Kruglov: para ajudar o filho a se tornar atleta profissional
Nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1976, em Innsbruck, na Áustria, os soviéticos levaram o ouro em apenas duas provas de biatlo. Nikolai Kruglov ganhou os 20 km individual, e embolsou uma segunda medalha de ouro no revezamento masculino.
Depois de se aposentar, Kruglov passava muito tempo treinando seu filho. Com apenas 2 anos, Nikolai Kruglov Jr. aprendeu a praticar esqui nórdico e desenvolveu interesse pelo esporte. Mas a futura carreira de Kruglov Júnior estava ameaçada porque a família não tinha dinheiro suficiente para treinamento e equipamentos.
Para que ele continuasse na carreira esportiva profissional e, assim, fizesse também algum dinheiro com isso, o pai vendeu suas medalhas olímpicas por US$ 5.000 (embora o valor seja geralmente muito superior, de acordo com os colecionadores).
Nikolai Kruglov (Foto: Iúri Somov/RIA Nôvosti)
Anos depois, Kruglov Jr. ganhou uma medalha de prata no revezamento masculino nas Olimpíadas de Inverno de 2006, em Turim, na Itália. E ele sabia exatamente em que gastaria o prêmio: comprou as medalhas de seu pai de volta, por US$ 50 mil. “Agora que estou aqui por causa do meu pai, tenho que recuperar as relíquias da família”, disse Kruglov Júnior.
Evguêni Grichin: para sobreviver
O patinador de velocidade soviético Evguêni Grichin foi quatro vezes campeão olímpico. Atleta mais bem sucedido nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1960, em Squaw Valley, na Califórnia, Grichin estabeleceu 7 recordes mundiais.
Grichin foi campeão olímpico em patinação de velocidade em 1956 e 1960 (Foto: Iossif Budnevitch/RIA Nôvosti)
Mais tarde, tornou-se famoso também como treinador. No entanto, depois de se aposentar do esporte, o patinador se tornou alcoólatra – bebia, segundo ele, para escapar da dura realidade da vida fora da patinação.
Nessa época, Grichin decidiu vender suas medalhas olímpicas. “Eu vendi minhas medalhas para sobreviver e me sinto envergonhado pelo resto da vida”, disse posteriormente. Grichin morreu em julho de 2005 devido a um coágulo de sangue.
Víktor Chuvalov: para superar as dificuldades dos anos 1990
Campeão olímpico de hóquei Víktor Chuvalov (centro) com jovens atletas da modalidade (Foto: Solomonov/RIA Nôvosti)
Víktor Chuvalov foi o primeiro jogador de hóquei soviético a se tornar campeão mundial e olímpico, e é o único membro do lendário time de hóquei soviético de 1954 ainda vivo. Na década de 1990, foi difícil para as gerações mais velhas se adaptarem às novas condições, e muitas pessoas tinham que sobreviver de pensões escassas.
Em um momento de desespero, o jogador de hóquei decidiu vender o ouro olímpico de 1956 – por uma mixaria – para sobreviver. Em maio de 2014, porém, o presidente russo Vladímir Pútin devolveu sua medalha.
“Infelizmente, aconteceu que, na problemática década de 1990, o Sr. Chuvalov perdeu sua medalha olímpica – ele teve que enfrentar muitos problemas e dificuldades. Eventualmente, o objeto foi parar nos Estados Unidos, onde alguns de vocês estão trabalhando atualmente. Nós a encontramos, patrocinadores ajudaram a comprá-la, e agora gostaria de devolvê-la ao Sr. Chuvalov”, disse Pútin, durante a cerimônia de premiação de 2014, após Sôtchi, para os membros da seleção de hóquei no gelo.
Ivan Bohdan: para não perder o apartamento da família
Bohdan recebendo prêmio (Vídeo: YouTube/XSPORT.ua
O lutador soviético Ivan Bohdan ficou famoso ao ganhar uma medalha de ouro na prova de luta greco-romana nos Jogos Olímpicos de 1960.
Bohdan vendeu sua única medalha olímpica durante os anos da perestroika para manter o apartamento da família. Sua filha estava se divorciando e, de acordo com a lei, o marido poderia reivindicar parte do apartamento. O item foi então vendido por US$ 3.500, junto com tocha olímpica que carregara nas Olimpíadas de Moscou, em 1980, que lhe rendeu outros 500 dólares.
“De qualquer modo, eventualmente, eu teria dado minha medalha a um museu ou teria ficado em casa sem propósito. Se eu tivesse a chance de recuperá-la, eu não o faria. Hoje, os campeões olímpicos não são respeitados”, disse, certa vez, Ivan.
Olga Korbut: para não morrer de fome (dizem as más línguas)
Medalhista de ouro Olga Korbut, 61 anos, vive atualmente no Arizona (Foto: AP)
A ex-ginasta soviética e tetracampeã olímpica Olga Korbut vendeu suas medalhas olímpicas e outras recordações no início de 2017. As 32 ofertas, incluindo dois ouros e uma prata das Olimpíadas de 1972, em Munique, totalizaram US$ 333,5 mil.
"Korbut flip", que não é mais permitido em competiçõete (Vídeo YouTube/GreyeyesRus)
Segundo relatos, ela teria feito isso para evitar passar fome, embora Korbut negue esses boatos. Ela vive atualmente em Scottsdale, no Arizona.
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