Bolsonaro faz pronunciamento após derrota e diz que vai cumprir a constituição
Manifesto divulgado 90 anos atrás pelo autor Plínio Salgado lançou o integralismo. Movimento de extrema direita é antecessor de discursos ultraconservadores da atual política nacional
Em sua primeira aparição pública após a derrota eleitoral, Jair Bolsonaro (PL) falou sobre as manifestações antidemocráticas de caminhoneiros que acontecem em rodovias de grande importância para o país. Em discurso curto, de menos de três minutos, ele agradece votos que teve, falou sobre injustiça, liderança e novamente disse o lema integralista: Deus, pátria, família. Ele não fez qualquer menção para reconhecer ou aceitar a eleição que deu vitória ao presidente Lula. Importante ressaltar que mesmo sem reconhecer a vitória, ele diz que continuará cumprindo a constituição.
O integralismo tinha princípios conservadores, de inspiração cristã e fortemente influenciados pelo fascismo italiano e pelo integralismo português, os formulados pelo escritor e jornalista Plínio Salgado (1895-1975). A ação Integralista Brasileira (AIB) é a versão nacional da extrema-direita. O idealizador do integralismo foi um dos oradores da famosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 1964, e apoiador do golpe militar que instauraria a ditadura naquele mesmo ano.
Bolsonaro inicia o discurso falando que movimentos são resultado de insatisfação e indignação, afirmando que a direita surgiu de verdade no Brasil. Ele afirma que os “sonhos saem mais vivos que nunca, mas diz que jogará dentro das quatro linhas da constituição”, querendo dizer que vai agir de acordo com as regras.
A falta de pronunciamento do atual presidente serviu de munição para a continuidade dos bloqueios feitos por caminhoneiros bolsonaristas, que rejeitam o resultado da eleição e apoiam um golpe de Estado, mas o presidente diz que seguirá dentro das regras democráticas.
Confira o discurso na íntegra:
“Eu quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro. Os atuais movimentos populares são frutos de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. Nas manifestações pacificas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, de destruição de patrimônios e licenciamento do direito de ir e vir”, disse.
“A direita surgiu de verdade em nosso País. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: ‘Deus, Pátria, Família e Liberdade’. Formamos diversas lideranças pelo Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca, somos pela ordem e pelo progresso. Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra. Sempre foi rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Nunca falei de controlar e censurar a mídia e as redes sociais. Enquanto presidente da República e cidadão continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição. É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros, que como eu, defende a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde-amarelas da nossa bandeira”, finalizou.