Ama as plantas como a ti mesmo
A cegueira botânica faz as pessoas verem as plantas como objetos sem importância
Sinésio Dioliveira
Jesus deu o toque pra gente amar o próximo como a nós mesmos. Só que isso é coisa dificílima, visto que nem a nós mesmos andamos amando de maneira inteligente. São latadas e mais latadas em que nos metemos na busca de ser a cereja do bolo e acabamos sendo apenas o caroço da azeitona. Tomei liberdade de envolver as plantas na frase de Jesus, e o motivo disso é bem sério. Outro toque legal de Jesus é que olhemos as aves do céu para evitar certas preocupações desnecessárias. Jesus foi o primeiro, digamos assim, a ser “observador de pássaros”, os xenófilos, que não é meu caso, preferem a expressão bird watcher.
Pelo fato de as pessoas terem um grande carinho para com os animais, principalmente em se tratando de cães e gatos, e (ignorantemente) não darem a mínima importância para as plantas, disso vem a palavra zoochauvinismo. Algumas pessoas, porém, exageram tanto no carinho dedicado aos pets, que passam a impressão de que são portadoras de alguma ziquizira psicológica.
Na porta do meu prédio, às vezes presencio um fato inusitado: uma senhora fazendo caminhada com uma cachorrinha mais bem trajada que ela: usando vestidinho e um sapatinho. Já a presenciei chamando sua poodle de “filhinha”. O animalzinho deu uma parada para cheirar o tronco de uma quaresmeira (certamente sentindo o cheiro de outro cão), e a mulher então se dirigiu a ela de maneira bem carinhosa: “Anda, filhinha, que a mamãe tá com pressa”. Não estou querendo dizer que a dona da cadelinha tenha alguma urucubaca psicológica. Só a mencionei para mostrar a que ponto chega o carinho de certas pessoas para com os bichos.
Dessa preferência pelos bichos em relação às plantas, foi criado, pelos biólogos e educadores James H. Wandersee e Elisabeth E. Schussler, o termo “cegueira botânica”. Segundo os biólogos, isso está relacionado à incapacidade de as pessoas enxergarem as plantas como seres vivos bem como as valorizarem. A cegueira botânica faz as pessoas verem as plantas como objetos sem importância.
Assim ficam impedidas de saber que das plantas vem oxigênio que respiram, os alimentos que comem, os remédios tomam, os cosméticos e perfumes que usam, os birinaites que tomam, a carne do boi, galinha, porco que comem, os quais, para lhes fornecer a carne, se alimentam de plantas. E mais: cabem a elas regularem o clima do planeta por meio da fotossíntese.
As pessoas precisam saber disso com urgência para que assim possam amar as plantas, o que resultará em amor a elas mesmas. Não amar esses seres que nos alimentam, nos curam, nos nutrem e nos mantêm vivos é um gigantesco ato de ignorância. Falando em ignorância, nas calçadas das ruas da cidade, é possível vermos muitas árvores, que também são classificadas como plantas, sendo estranguladas por cimento em sua base (impedindo-as de se alimentar) ou aneladas no meio da noite, o que também as matam de fome.
Sinésio Dioliveira é jornalista