Gestão de Goiânia: Rogério não pode carregar a “cruz” sozinho
Prefeito começa seu terceiro ano à frente de Goiânia tentando fazer as coisas andarem, mas com muitas pressões sobre si. É hora de ser republicano e ajudá-lo
No Brasil, quando se compõe uma chapa para concorrer a um cargo no Poder Executivo, há geralmente um olhar focado em quem a encabeça e vistas grossas a quem fica na posição de vice. É bem verdade que não foi o que ocorreu nas últimas eleições presidenciais, com o nome de Geraldo Alckmin (PSB) tendo sido bastante discutido como vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mas em 2020, quando Rogério Cruz (Republicanos) foi anunciado como o coadjuvante da coligação encabeçada por Maguito Vilela (MDB), não foi bem assim. O experiente ex-governador, ex-senador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia era o grande favorito para o pleito de outubro daquele ano, mas no meio do caminho tinha uma pandemia.
Maguito foi contaminado pelo coronavírus em setembro, foi internado na capital, depois levado para São Paulo. Seu estado já era muito grave quando ganhou o primeiro turno e a campanha do senador Vanderlan Cardoso (PSD) passou a questionar se não seria hora de o eleitor refletir se Maguito teria mesmo condições de assumir, caso vencesse. Uma forma um tanto inaceitável, por muitos, de dizer que era o nome mais “seguro” para assumir um cargo tão complexo como o de prefeito de Goiânia.
No fundo, o que ele dizia remetia ao vice da chapa oposta: a mensagem enviesada sobre a saúde de Maguito dizia mais a respeito, mesmo, era sobre Rogério Cruz, um discreto vereador no exercício do segundo mandato.
A população não comprou a “sugestão” de mudança de voto do pessedista. Maguito, internado, venceu as eleições e foi diplomado. Mas o restante da história foi o que se sabe: o veterano político não mais deixou o leito do hospital. Após 83 dias internado, ele não resistiu à doença, em 13 de janeiro.
A Prefeitura de Goiânia ficou com o “inexperiente” Rogério Cruz. Obviamente, aos poucos – e com desgaste, sempre – foi montando sua equipe de acordo com seu perfil. Não dá para querer que fosse como Maguito, assim como Michel Temer não foi Dilma Rousseff, nem Itamar Franco seguiu Fernando Collor.
O fato de conhecer a Câmara de Goiânia como seu integrante durante oito anos, de certo modo, facilitou sua tarefa com os colegas. Formou uma base de apoio considerável, mas que cobra seu preço.
E, assim, ele começa seu terceiro ano à frente do Executivo municipal tentando fazer as coisas andarem, mas com muitas pressões sobre si. Cruz não tem nem perto do carisma de Iris Rezende, seu antecessor, mas, sem o mesmo tato, precisa cuidar dos problemas que o emedebista deixou.
Os interesses vêm de todos os lados e talvez seja essa a questão. Ter poder em uma cidade como Goiânia é como possuir a galinha dos ovos de ouro. O problema é que lutar por cargos e espaços no Paço, pressionando a administração, e ao mesmo tempo ignorar que é preciso indicar gente competente para ocupá-los, é criar um círculo vicioso. No fim, o prejuízo que vier cairá na conta de todos.
Em uma administração permeada por interesses universais, o melhor que os “parceiros” podem fazer para o prefeito e para a cidade – e consequentemente para si mesmo – é, republicanamente, se inspirar no bíblico Simão Cireneu: ajudar a carregar a cruz.