‘Foi horrível’, diz moradora que viu casas serem destelhadas
Força do vento arremessou barrotes, danificou carros e derrubou árvore em Paripe
Moradores da Rua 21 de abril, em Paripe, passaram um sufoco depois que telhados inteiros foram arrancados, telhas sacudiram ao vento como se fossem papel e barrotes de 4kg foram arremessados de cima das casas a metros de distância. Na queda, atingiram carros, fiação e provocaram estragos. Uma árvore não suportou a força do vento e tombou. A madrugada de quinta-feira (11) vai ficar na memória daqueles que acordaram assustados com a chuva em Salvador.
O motorista Cleiton do Carmo, 33 anos, estava cochilando no sofá quando ouviu um estrondo que o fez despertar e correr para o quarto. Chovia forte no momento e logo após o barulho a energia caiu. Alguns minutos depois, ele saiu para ver o que tinha acontecido e percebeu que o telhado que cobria a área de serviço foi arrancado e arrastado pelo vento. Ao descer as escadas do sobrado onde mora encontrou com vizinhos assustados.
“Todo mundo saiu para ver o que estava acontecendo. A gente acredita que um raio atingiu a árvore e depois o vento arrastou os telhados. Como na minha casa tinha forro no teto não vi que as telhas tinham sido arrastadas. Desci e quando voltei o forro tinha cedido, por conta da quantidade de água, e molhou meu sofá, minha cama, tudo”, explicou.
Telhas foram arrancadas no momento em que chovia (Foto: Marina Silva/ CORREIO) |
Do outro lado da rua a esteticista Camila Machado, 22 anos, e os pais viam da janela as telhas deles e dos vizinhos voando com a força do vento. A casa ficou praticamente sem teto. Eles arrastaram os móveis para o quarto, onde o telhado resistiu, para tentar evitar que fossem estragados pela chuva. Quando o dia amanheceu a família correu contra o tempo para cobrir a casa antes que as nuvens carregadas desabassem novamente.
“Foi uma cena horrível. Nunca tinha visto isso. A gente não sabia o que fazer. Agora, o pessoal está correndo para terminar o serviço. A gente ainda não calculou o tamanho do prejuízo, mas vamos ter gastos com mãos de obra, telha, madeira... enfim, pelo menos uns R$ 10 mil”, disse, ainda nervosa.
Na panificadora, lanchonete e mercearia Claujulan, que fica a cerca de 100 metros de distância desses imóveis, o prejuízo também está sendo contabilizado. O filho do proprietário, Guilherme Motta Júnior, teve que pisar com calma entre os escombros para não molhar e nem machucar os pés. Ele mora no imóvel que fica em cima do estabelecimento e estava acordado quando tudo aconteceu.
“Começou a chover forte e depois teve um grande barulho. A luz caiu e eu desci correndo para desligar os equipamentos [da panificadora]. Quando voltei meu pai avisou que estava tudo molhado lá em cima [na área livre e coberta que ficava em cima da casa deles]. As telhas voaram, outras caíram e quebraram. O estrago foi grande”, contou.
Morador observa o tamanho do estrago feito pelos ventos fortes (Foto: Marina Silva/ CORREIO) |
Um carro que estava estacionado do outro lado da rua foi atingido pelas telhas e ficou com a lataria amassada e arranhada. O vidro traseiro estourou. A Defesa Civil de Salvador (Codesal) informou que a velocidade do vento na área não foi registrada em função da estação da Base Naval do Inmet está inoperante, mas frisou que o bairro registrou 112,5 mm de chuva em um espaço de tempo de 12h, o que é muito.
O mau tempo também deixou ruas alagadas em Tubarão, em São Tomé de Paripe e na Cidade Baixa. O trânsito ficou caótico na maior parte do dia, principalmente na Avenida Luís Vianna Filho (Paralela), na Avenida ACM e na BR-324.
O temporal foi provocado pela atuação de um sistema de baixa pressão, responsável pelas nuvens que estão castigando a cidade desde o início da semana. A Codesal informou que a previsão é que continue chovendo até domingo (14), e há risco de deslizamento de terra e de alagamentos.
Pela manhã, a região mais atingida foi o Subúrbio Ferroviário, principalmente bairros como São Tomé de Paripe, Palestina, Mirante de Periperi e Fazenda Coutos. Apesar de não ficar nessa região da cidade, o bairro de Mussurunga também registrou grande acumulados.
Até o final do dia a Codesal tinha contabilizado 229 ocorrências. Os casos mais recorrentes foram avaliação de imóvel alagado (63 unidades), deslizamento de terra (39), ameaça de desabamento (34), ameaça de deslizamento (32), infiltração (17), árvore ameaçando cair (12), e destelhamento (10). Em caso de emergência a orientação é buscar um local seguro e acionar a Defesa Civil pelo 199. As equipes estão de plantão 24h.