<P>Diante de uma semana em que a <STRONG> chuvarada </STRONG> deixou estragos, alagamentos e desabrigados no Rio Grande do Sul, o sol funciona como um alento para os gaúchos. Basta o brilho no céu para arrancar sorrisos gratuitos da população, mesmo daqueles que não foram prejudicados pelo temporal.</P> <P>O motivo é científico: pesquisas mostram que a <STRONG>meteorologia influencia no humor e na saúde</STRONG> das pessoas. A relação não é nada recente: em 480 a.C., Hipócrates publicou Dos ares, das águas e dos lugares, em que afirma que o médico “deveria investigar a origem das enfermidades no ambiente de vida do homem”. O resgate histórico foi abordado pelas geógrafas Denise Maria Sette e Helena Ribeiro no artigo Interações entre o clima, o tempo e a saúde humana , publicado em 2011.<BR><BR> <STRONG>Entenda os rankings que apontam o RS como campeão mundial de chuva</STRONG> <BR><BR>Segundo as pesquisadoras, o tempo meteorológico afeta as relações pessoais, pois “o ser humano é <STRONG>homeotérmico</STRONG>”, ou seja, possui temperatura do corpo entre 36°C e 37ºC, ficando desconfortável com temperaturas abaixo ou acima disso.</P> <P>“O bem-estar humano depende do conforto térmico através da relação temperatura e umidade, vento e pressão atmosférica e iluminação. As baixas pressões de estados pré-frontais relacionados aos anticiclones polares podem causar desconforto, cansaço ou indisposição. A depressão e o suicídio podem estar relacionados, nos países de altas latitudes, como a Suécia, ao curto período de insolação na estação de inverno. Em contrapartida, a chegada da primavera nos países de clima temperado costuma ser motivo de alegria”, explicam.<BR><BR> </P> <P>Assim como na Suécia, o alto índice de suicídio no Rio Grande do Sul pode estar relacionado ao clima frio, conforme a psicóloga especialista em qualidade de vida Elizabeth Mendes Ribeiro da Rocha. Ela explica que as baixas temperaturas e a pouca exposição ao sol, no caso de dias seguidos de chuva, deixam a maioria das pessoas mais introspectivas, tristes ou depressivas. Já o calor e o sol deixam as pessoas mais eufóricas, voltadas às relações interpessoais.</P> <P>— Antigamente, a psicanálise dizia que todos os problemas estavam dentro do sujeito, mas depois outras teorias mostraram que o meio ambiente influencia diretamente no humor das pessoas. É uma relação inegável.<BR><BR> <STRONG>Como Porto Alegre se protege das cheias</STRONG> </P> <P>A psicóloga especialista em Psicologia Clínica Anissis Moura Ramos explica que há uma relação hormonal entre a exposição do corpo ou não à luz, por isso a mudança de humor.</P> <P>— Quando tomamos sol, nosso corpo libera <STRONG> serotonina </STRONG>, neurotransmissor responsável pelo controle da ansiedade e bom humor. Já em dias nublados, liberamos <STRONG> melatonina </STRONG>, o hormônio do sono, que nos deixa sonolentos e indispostos.<BR><BR> <STRONG>Histórias de quem não consegue voltar para casa depois da enchente</STRONG> <BR><BR>O professor de Psicologia da PUC-RS Christian Haag Kristensen acrescenta que a depressão associada ao tempo era antigamente chamada de <STRONG>“depressão sazonal”</STRONG>, agora abordada pelos pesquisadores como “transtorno depressivo maior com padrão sazonal”. </P> <P>— No Brasil, ainda não temos muitas pesquisas sobre isso, mas nos Estados Unidos, em regiões quentes como a Flórida, a ocorrência desse transtorno é de menos de 2%, enquanto chega a 10% no Alasca, onde é frio.<BR><BR> <STRONG>Tempestade que castigou o Estado ainda deixa marcas</STRONG> <BR><BR>Por isso, conforme Elizabeth, é indicado que pessoas com depressão tomem sol, e que os ansiosos façam esportes ao ar livre, como corrida ou caminhada. </P> <P>— A gente não se dá conta do quanto somos condicionados ao tempo — completa a psicóloga.<BR><BR>Embora seja menos comum, ela afirma que há pessoas que gostam da chuva e do frio. São aquelas que associam esse tempo ao aconchego, à família e às boas lembranças. </P> <P><STRONG>Quando a meteorologia pode ajudar a Medicina<BR></STRONG><BR>Membro da Sociedade Brasileira de <STRONG>Biometeorologia</STRONG> (ciência que estuda os efeitos dos fatores atmosféricos sobre os organismos vivos), Anderson Spohr Nedel afirma que as pesquisas na área podem contribuir para a Medicina, no planejamento dos atendimentos hospitalares. É o que pretende um de seus orientandos em uma dissertação de Mestrado:</P> <P>— Ele concluiu que as internações de crianças menores de cinco anos por causas respiratórias têm relação direta com o tempo frio e seco. Agora, pretende estabelecer uma cronologia do fato meteorológico à internação — resume o professor da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel),</P> <P> <STRONG>Relatos de quem viveu o medo em meio à tempestade no Estado</STRONG> <BR><BR>Com isso, será possível prever quando chegarão os pacientes a cada queda brusca de temperatura, por exemplo, o que permitirá a criação de um modelo de prevenção aos hospitais.<BR><BR>O professor também destaca a importância da biometeorologia para a prevenção de doenças como a dengue, já que pesquisas na área mostraram a relação entre as altas temperaturas e a chuva com a maior proliferação do mosquito transmissor.<BR><BR><STRONG> Leia outras notícias da série ZH Explica </STRONG></P> <P><STRONG>Como o nosso corpo reage ao tempo</STRONG></P> <P><STRONG>— Pressão atmosférica:</STRONG> dor de cabeça, fadiga, alteração sensorial, depressão, insônia e alucinações.</P> <P><STRONG>— Alta luminosidade:</STRONG> esgotamento nervoso, perturbações mentais, irritação e euforia.</P> <P><STRONG>— Baixa luminosidade:</STRONG> deficiências orgânicas, raquitismo, depressão e debilidade mental.</P> <P><STRONG>— Vento:</STRONG> cansaço, abatimento, debilidade, depressão, hipersensibilidade, irritabilidade, desidratação e dores de cabeça.</P> <P> Fonte: Interações entre o clima, o tempo e a saúde humana , de Denise Maria Sette e Helena Ribeiro<BR><BR><STRONG> Leia as últimas notícias </STRONG></P>